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Tem Jornalismo na Rural?

 

Christian Fuentes, Eduardo Oliveira, Felipe Teles e Sandra Garcia*

 

Se você fez ou faz parte da turma de Jornalismo da Rural, certamente já ouviu a pergunta acima. Normal, considerando que comemoramos os primeiros dez anos de vida neste fatídico 2020! Comparado a outros cursos de Jornalismo fundados em meados do século passado, ele é novo, não é mesmo? Apesar de sermos “caçulas” na universidade, os dez anos não implicam em pouca qualidade na oferta de ensino, pesquisa e extensão aos graduandos. 

Cruciais para o desenvolvimento da própria formação, os alunos botam a mão na massa. Mesmo sem uma estrutura adequada, destacam-se na produção de trabalhos independentes. Acompanhem o caso do TJ Rural, da Webradio/ Podcast Capivara, do Jornal Sobrevivências e do mais recente, Página Dezenove.

 

TJ Rural: projeto feito por estudantes do curso

 

A experiência com o telejornalismo produzido apenas por estudantes de diferentes períodos começou em 2018, a partir da iniciativa do aluno Rômulo Norback em conjunto com outros alunos. Ao longo do tempo, o trabalho ganhou forma, notoriedade e reconhecimento de outros setores da UFRRJ. Por uma série de questões, chegou ao fim após um ano. 

Tathielle Góis, estudante do quinto período do curso, acompanhou o TJ Rural desde o início. Sua última função no projeto foi como editora-chefe. Tathielle relembra o início das gravações, dificuldades e estrutura. Aperte o play e confira. 

 

 


Webradio Capivara 47: ruralinos no ar! 

 

O projeto Capivara 47 é uma rádio on line em vias de organização para funcionamento pela internet. A ideia é atender à demanda da comunidade acadêmica e da população de Seropédica. Idealizada por Eduardo Oliveira, aluno concluinte do curso, conta com a ajuda dos também formandos Christian Fuentes, Lucas Meireles e Felipe Telles (este do quinto Período).

Apesar de sua instalação efetiva ainda não ter acontecido, a webradio avançou com a montagem das editorias e com o recrutamento de outros alunos para a produção das notícias. Isso possibilitou a criação de um podcast, cujo primeiro episódio foi ao ar em abril, no início da pandemia. 

Eduardo Oliveira conta mais sobre a produção do podcast e todo o desenvolvimento da Webradio Capivara 47. Confira:

 

 

O Podcast pode ser ouvido em: 001 – Home Office e Coronavírus.

 

Jornal SobreVivências dialoga com os moradores de Seropédica

 

Capa da primeira edição do Jornal SobreVivências

O ano de 2018 foi de muitos embates no Brasil. O curso de Jornalismo esteve atento às movimentações políticas e sociais que pautaram o período e não foi à toa que os alunos procuraram representar os debates na produção de um jornal impresso, direcionado à cidade de Seropédica. Um dos criadores do Jornal SobreVivências, Douglas Colares, jornalista recém-formado pela UFRRJ, relata a curta, porém importante experiência com o jornal. 

“Nós, como corpo discente do curso de Jornalismo, começamos a pensar esse jornal depois da Comunicar!, nossa semana acadêmica de 2018. Foi quando conhecemos as experiências já feitas na Rocinha, na Maré, e aquilo começou a fervilhar na nossa cabeça. Alguns alunos, naquele mesmo dia do evento, já voltaram para suas casas conversando sobre o assunto e começamos a angariar alunos que estivessem dispostos a trabalhar. Fizemos uma reunião de pauta e várias ideias surgiram. Apareceram coisas até para várias edições. Ficou claro o desejo grande de conseguir conciliar o papel de comunicador, o papel de estudante, o papel de periférico, entendendo a realidade de Seropédica, e o papel de cidadão, porque estávamos às vésperas das eleições presidenciais de 2018.

Então, esse desejo foi nascendo. Contamos com apoio da coordenação para ajudar no que fosse preciso, no sentido de levar para a imprensa universitária, imprimir, levar de carro os exemplares que eram muitos… Os alunos apoiaram escrevendo matérias, fazendo entrevistas, diagramando. Foi muito legal porque nós pudemos contar com o apoio dos estudantes do segundo período até os alunos que estavam em vias de se formar. Nós pensamos muito em falar não só como jornalistas em formação, mas de morador para morador, pensando que a maioria que compõe a equipe morava em Seropédica. Queríamos não só publicar um jornal, mas também conversar com as pessoas, fazer um perfil delas, angariar mais gente para outras edições. Não queríamos que fosse um produto só de alunos de jornalismo. Queríamos que a população mesma pudesse falar.

Especificamente sobre o dia em que fomos às ruas entregar os jornais, a nossa ideia era mais que só veicular um produto; era realmente criar um diálogo com a comunidade, com os moradores, entendendo que existe uma certa segregação, uma certa dicotomia entre alunos e, enfim, pessoas da comunidade e moradores da cidade. Nós nos separamos em grupos, entregamos esses jornais e conversamos com as pessoas. Fizemos isso em feiras e perto dos mercados, onde tem uma grande circulação de pessoas. Tivemos todos os tipos de reações possíveis, de pessoas que acharam a ideia maravilhosa, outras que viam nisso um movimento ideológico e até de quem claramente entendia o que estávamos dizendo. Lembro de um caso em especial de um rapaz que queria muito receber o nosso jornal e a gente depois até pensou em fazer um perfil com ele, que é um morador bastante conhecido na cidade. Ele foi o primeiro a pegar o nosso jornal, o nosso piloto. Era um homem preto, pobre. Entender como essa comunidade se articula era muito importante para nós. A gente precisava sair desse grau hierárquico de estudantes brancos falando para outra branquitude e, por isso, nos propusemos a transpor os muros da universidade.

Infelizmente, o jornal não rendeu mais edições, embora tenhamos feito outras reuniões de pauta. As obrigações acadêmicas e uma certa decepção com o resultado das eleições ajudaram a dispersar as pessoas. Mas acho que é uma ideia que deveria ser trazida de volta. Acho que o jornalismo impresso ainda tem aderência e espaço. Acredito que pensar numa comunidade é um dos meios mais democráticos, sobretudo em regiões periféricas onde não existam TVs e rádios locais. O ato de entregar um jornal e conversar com os moradores é bastante eficiente e aproxima as pessoas. Foi uma experiência incrível. Naquele momento político do país, era necessário que nós saíssemos desses muros da universidade. Essa é uma das coisas que eu mais guardo e de que mais tenho orgulho dos tempos em que eu estudava na Rural”.

 

O Jornal SobreVivências pode ser lido em: Jornal SobreVivências. 

 

 

Página Dezenove: exercício jornalístico na Baixada e na Zona Oeste 

 

Autointitulados “Um coletivo de jovens da Baixada e da Zona Oeste do Rio de Janeiro em busca de boas histórias”, sete estudantes do curso de Jornalismo dão vida à Página Dezenove 

 

O grupo surgiu a partir de uma conversa com a professora Ana Vaz, ainda no início do isolamento social. “Nós, os alunos, já tínhamos o desejo de produzir durante esse período de estadia em casa. Unimos um time de colegas de turma que também se interessou em escrever e criamos tudo do zero: identidade visual, linha editorial, espaço para veicular os textos etc.”, explica um dos alunos envolvidos, Thallys Braga, do terceiro período do curso de Jornalismo.

O aluno conta que a proposta da Página Dezenove é fazer novas leituras sobre os espaços em que vivem. “Todos os integrantes são moradores da Baixada e da Zona Oeste, região que recebe coberturas midiáticas um tanto quanto injustas e questionáveis. Estamos procurando boas histórias, personagens e narrativas, e não precisaríamos ir muito longe para encontrá-los”, diz. 

“Como é uma situação nova e sem previsão de voltar à antiga normalidade, às vezes fica difícil ter uma mente positiva e a ociosidade desencadeia ansiedade, medo e insegurança. Produzir é uma maneira de manter a mente ativa, estudando para pauta, procurando boas indicações de cultura e entretenimento, deixando de focar só na incerteza. Colocamos em prática as experiências adquiridas mesmo com pouco tempo de curso e nos dedicamos a fazer um bom trabalho” 

Abrigada na plataforma Medium, o website Página Dezenove possui atualmente cinco editorias: reportagem, entrevista, entretenimento, análise e curadoria. Os integrantes da revista têm a orientação da professora Ana Vaz nas reportagens e entrevistas. “Através do contato com a professora, encaminhamos as pautas aprovadas pelo coletivo, tiramos dúvidas referentes à angulação, consulta às fontes e técnicas de entrevistas”, explica. As reuniões são semanais e, de acordo com o estudante, a apuração é feita à distância, com atenção redobrada. Além disso, há um cuidado maior na redação. “Às vezes é necessário um outro olhar para conduzir o texto e, por isso, acontecem três revisões para ajudar na angulação, construção da matéria e revisão gramatical. Após passar por essa dinâmica, o texto é publicado”, descreve o discente. A ideia é continuar a desenvolver o trabalho durante o período de isolamento e mesmo após o retorno às aulas presenciais.

 

Página Dezenove está disponível em: Medium/PáginaDezenove.

 

 * Sandra Garcia é docente do curso de Jornalismo da UFRRJ, Christian Fuentes, Eduardo Oliveira e Felipe Teles são igualmente estudantes do mesmo curso.

Postado em 11/11/2020 - 17:14 - Atualizado em 16/11/2020 - 14:40